12 de fev. de 2014

Namoro?

Caro amigo...


Ontem à noite tivemos um jantar em família, e foi bombasticamente bombástico! Minha mãe o planejava desde o almoço de domingo, quando ela disse:

- Quero todos lá, na quarta-feira. 
Assentimos.
- Inclusive você! - ela avisou ao meu irmão, Pedro.
Como ordem de mãe é ordem de mãe, todos nos preparamos para o tal jantar da quarta à noite.
Minha irmã foi a primeira a descer para a sala de jantar. Quando cheguei, ela já estava lá, sentada no seu lugar de costume, enquanto a mamãe espalhava os pratos sobre a toalha branca que eu não via desde o natal. Já estava claro que aquilo era uma ocasião especial e que a minha irmã sabia do que se tratava, pelos olhares que as duas trocavam.
Meu pai chegou logo depois, enquanto eu e Beatriz conversávamos sobre jogos violentos para vídeo-game. Ela acha que eles podem influenciar pessoas a praticarem assassinatos, e eu acho que se fosse assim, eu já estaria na lista de procurados do país.
Meu irmão foi o último a descer do quarto, onde ele passa o dia trancado.
Quando estávamos os quatro sentados, a mamãe finalmente trouxe o frango assado com batatas.
- É receita de família! - ela avisou, com o prato nas mãos. - Só para ocasiões especiais.
- Certo - eu suspirei. - O que está havendo? 
- Era exatamente o que eu ia perguntar - meu pai disse, sentado na ponta da mesa.
- Esperem - meu irmão gritou. - Isso é uma ocasião especial?
- É claro que é! - eu respondi. - Não está óbvio? 
- Desculpe, pirralho, mas eu não presto atenção em coisas desnecessárias que nem você.
- Ah, e como você consegue prestar atenção em você mesmo?
- Vocês podem calar a boca!? - meu pai se exaltou. 
Eu e Pedro nos calamos e trocamos olhares de ódio por alguns segundos.
A Beatriz estava calada o tempo todo, o que era raro. E a mamãe finalmente se sentou, à direita do papai, à minha frente.
- Sim, é uma ocasião especial - ela disse. - Quer contar, querida? - perguntou à minha irmã.
- Você está grávida? - o papai perguntou, negativamente surpreso e quase levantando-se da cadeira.
- Não! - minha irmã respondeu. - Eu só...
- Não diga "só". Se fosse "só" este jantar não estaria acontecendo - ele desabafou. - Até o Eduardo já entendeu que há algo de errado!
"Até" o Eduardo? Eu sou a pessoa que saca as coisas mais rápido nesta casa! Mas preferi ficar calado, eu não parecia ser o centro das atenções naquela noite.
- Eu tenho um namorado - minha irmã disse, em voz baixa, com o olhar distraído no prato.
- Um namorado? - Pedro perguntou, segurando-se para não rir.
- Você é feia! - eu disse.
- Garotos! - minha mãe gritou.
- Eu não sou feia! - Beatriz respondeu, jogando-me uma bolinha de guardanapo.
- Quem é o sujeito? - meu pai perguntou, escorando-se nas costas da cadeira.
Papai poderia estar bravo, mas eu não sabia, pois ele nunca demonstrava. Ele até parecia tranquilo, o que não significava nada. O fato é que minha irmã nunca namorou ninguém, e ele sempre foi super protetor, embora, como eu disse, ele não demonstre. 
- É o Diogo, ele é meu colega - ela respondeu. - Ele tem dezenove. 
- E você dezessete - o papai respondeu.
- É. 
- Isto é... - meu pai começou, antes de ser interrompido pela minha mãe.
- Maravilhoso! - ela disse, servindo um pedaço de frango no seu prato. - Já está na hora dela ter um namoradinho.
- Eu já disse que não é um namoradinho, mãe - Beatriz alertou. - É um namoro sério.
- Eu sei, minha filha, só estou sendo delicada com as palavras!
- Ele é cego? - Pedro gozou.
Eu não pude me conter e soltei uma gargalhada. Na verdade a Beatriz é muito bonita. Seus cabelos são castanhos, lisos e longos, e seus olhos verdes. As formas do seu corpo também são bem definidas, mas é nossa irmã! Quando é sua irmã, você precisa fazer uma certa força para imaginá-la como uma garota de verdade, ou para imaginar como os outros caras a veem.
- O que muda agora? - eu perguntei.
- Ora, Dudu! - meu irmão começou. - Você sabe. Eles vão se beijar, se pegar, se trocar palavras melosas, e depois de algum tempo...
- Já está de bom tamanho, Pedro! - minha mãe o interrompeu.
Ela costumava interromper-nos quando achava que passávamos dos limites. Era como uma censura humana.
Enquanto discutíamos, ela nos servia, e naquele momento estávamos todos com frango assado e batatas em nossos pratos. Papai estava calado, e começou a comer.
- Você tem alguma coisa para dizer? - Beatriz perguntou, o encarando.
- No momento não - ele respondeu, colocando um pedaço de frango na boca.
Mamãe e Beatriz trocaram olhares de aprovação e alívio. As duas sempre foram muito cúmplices, e não seria diferente nesta noite.
Depois de um bom tempo ouvindo-se apenas os barulhos de talheres e mastigação, Pedro quebrou o silêncio:
- Mas e aí, o cara é cego ou não?
Não pude me segurar e ri novamente.
Por um lado, a noite foi legal. Nós não jantávamos juntos há um tempão. Ainda não pude absorver a ideia de ver a Beatriz beijando um cara, mas espero me acostumar em breve. 
No final do jantar, quando já estávamos de barrigas cheias e falando de coisas aleatórias, a campainha tocou.


[continua...]



Nenhum comentário:

Postar um comentário