27 de dez. de 2014

27 de dezembro.

Caro amigo...

O dia lá fora tá todo molhado. Dias molhados são um saco. Não é só água que cai das nuvens em dias como esse, mas também tédio e chatice. Muito tédio e chatice. Inclusive acho que um tédio atingiu a cabeça do Felipe, porque ele ficou jogado na minha cama por meia hora, olhando pro teto que nem uma estátua.
Tava um silêncio pior do que dia de prova na escola.
Eu olhando os pingos descerem pela janela e o Felipe lá, morto.
Só que daí o cérebro dele decidiu funcionar, o que raramente acontece, e ele levantou muito rápido da cama, com os olhos arregalados.
- Que dia é hoje, Dudu? - ele perguntou.
- Sábado.
- Não, dia do mês! Que dia é?
- Mas ué, sábado não é um dia do mês?
Sério cara, sábado é um dia do mês. O Felipe viaja.
- A data, Eduardo, qual a data de hoje!? - ele tava pirado.
Desceu da cama e saiu bisbilhotando por todo o quarto. Aí ele achou um calendário dentro de uma gaveta de tralhas.
- 27 de dezembro! - gritou.
- Obrigado, agora com certeza estou menos entediado.
Ele ficou me olhando por um instante. Como se eu devesse lembrar de alguma coisa, ou dizer alguma coisa. E então eu realmente lembrei.
Hoje completa-se um ano desde que decidi lhe enviar nossa primeira carta. Bons tempos aqueles. Deve ter sido estranho pra você receber uma carta de um estranho de repente. De uma criança estranha, por sinal.
Mas vai dizer, a gente se aproximou muito desde então. Acho que um dos grandes objetivos da vida é esse, criar amizades repentinas e conhecer melhor as pessoas. Você sabe me fazer muito bem, amigo. Como um verdadeiro amigo, mesmo. É legal quando você me elogia, e gosta das minhas cartas. Me dá até vontade de escrever mais umas mil pra você. Mas é no sentido figurado, porque eu nunca escreveria mil cartas pra você. Porque você é legal, mas escrever tanto assim deve ser mais chato que dia molhado. Deve ser mais chato que a minha mãe irritada ou que os meus dois irmãos juntos. Tá, enfim.
Prometo que escreverei mais, certo? Isto é uma promessa, mas não leve tão a sério. Ninguém sabe o que pode acontecer. Pode ser que eu quebre o braço, que acabe o papel, sei lá. Eu só prometo que vou tentar. É. Prometo que vou tentar escrever mais, certo? Tentar.
O Felipe mandou eu escrever algumas coisas em nome dele, e eu disse "ok Felipe, vou escrever", mas ninguém se importa com ele, então deixa pra lá.
Obrigado por ser meu amigo e receber todas as minhas cartas, até mais.

Abraços do Eduardo.

Um comentário:

  1. É muito bom que voltou a escrever

    quero acompanhar o Eduardo na universidade ou cursinho ou seja lá para onde ele for

    fraterno abraço

    emersom roballo

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